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Terapia celular contra o câncer desenvolvida na USP vence Prêmio Octavio Frias de Oliveira

Fonte: Agência FAPESP* –Emilio Sant’anna | Agência FAPESP

Uma pesquisa que levou ao desenvolvimento de uma terapia celular para neoplasias hematológicas – doenças provocadas pela multiplicação descontrolada de células do sangue – venceu o 15º Prêmio Octavio Frias de Oliveira na categoria “Inovação Tecnológica em Oncologia”. A cerimônia, promovida pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e pelo jornal Folha de S. Paulo, foi realizada na última quinta-feira (08/08).

A premiação foi entregue às pesquisadoras Virgínia Picanço e Castro e Renata Nacasaki Silvestre, ambas do Hemocentro de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Elas são autoras de um estudo apoiado pela FAPESP e divulgado na revista Frontiers in Immunology.

Virgínia Picanço e Castro e Renata Nacasaki Silvestre,  pesquisadoras do Hemocentro de Ribeirão Preto da USP. (foto: divulgação) – Fonte: Agência FAPESP*

O grupo desenvolveu uma imunoterapia com o uso de células do sistema imune chamadas NK (natural killers). Por meio da modificação genética, inseriram no linfócito um receptor quimérico de antígeno (CAR, na sigla em inglês) para criar a CAR-NK, uma célula capaz de reconhecer e atacar as células cancerosas. O tratamento com esses linfócitos modificados pode resultar em uma opção mais acessível em relação a outras alternativas, como as células CAR-T – terapia em que o antígeno quimérico é inserido em linfócitos T, em vez das células NK.

Além de uma resposta superior à da CAR-T, as células CAR-NK apresentaram outra vantagem: podem ser mantidas em cultura, o que torna os custos com a utilização após a manufatura mais baixos. “O maior impacto se tudo der certo, ao final dos estudos clínicos, é ter uma terapia mais acessível. Uma manufatura de uma CAR-NK pode atender a vários pacientes, diferentemente de uma CAR-T, que é apenas para um paciente”, diz Picanço. 

“É uma tecnologia totalmente brasileira, conseguimos desenvolver dentro da faculdade. Acho que é um grande avanço.”

Na categoria “Pesquisa em Oncologia”, as premiadas foram Patrícia Martins e Kátia Morais, que participaram de uma pesquisa que levou à descoberta de biomarcadores para o tratamento do câncer do colo do útero – o terceiro mais prevalente entre mulheres no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O escolhido como “Personalidade de Destaque” foi o oncologista Gilberto Schwartsmann. Membro da Academia Brasileira de Medicina, professor de Oncologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e escritor, ele destacou o trabalho e a perseverança das premiadas e a atuação da FAPESP. “[Jorge Luis] Borges dizia que, quando um autor escreve, ele tem todos aqueles que viveram antes dele naqueles parágrafos. Na ciência e na medicina temos as pessoas que nos guiam e nos fazem ser o que nós somos”, afirma. “Os órgãos de fomento à pesquisa no país, mas sobretudo em São Paulo, têm um papel fundamental. O ambiente de pesquisa nas universidades e a atuação da FAPESP são determinantes para muito do que acontece de bom na ciência brasileira”, destacou.